terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Quero ser nesse caminho



- Queres ser o meu azul?
- Não, quero ser a tua viola.
- E não queres ser o meu perfume?
- Quero ser a tua caixa de ritmos.
- Mas eu quero ser a tua luz.
- Tu és a minha luz, dourada.
- Gosto tanto do som do vento a passar pelos eucaliptos.
- E eu gosto do teu hálito, da tua voz.
- Alguma vez estiveste apaixonado?
- Acho que sim.
- Por que é que não tens a certeza?
- Não sei bem. Porque devo ter deixado de estar.
- Como foi?
- Quando percebi estava bem mais adiante, noutro caminho, impossível de voltar atrás e repetir o percurso. Já era outro.
- Foi bom?
- Tão bom como nascer e não poder voltar para a barriga da mãe.
- Ah! Também vou querer.
- O quê?
- Que alguém se apaixone perdidamente por mim.
- Vais apaixonar-te por alguém?
- Mas… não é a mesma coisa?
- Nem por isso.
- Hum, não sei como isso se faz. Ensinas-me?
- Não se aprende a fazer, apenas a desfazer e a não fazer.
- Parece uma complicação. Por agora só quero que sejas o meu azul.
- Vou ser sempre a tua cor violeta. E a tua viola também.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Devoção



Entrou na igreja em estado se leveza ansiosa. Suspirou ao encontrar as costas daquele amigo da comunidade, sentado num dos bancos do templo que tinha à sua guarda havia uns 25 anos. Os ombros largos e os cabelos ligeiramente desalinhados, e agora grisalhos, eram qualidades proibidas num homem (homem, homem) santo. Foi ele que a casou com o seu amado marido, o seu Ricardo, e já foi há 17 anos! Foi ele que baptizou a sua Vânia e o seu Hugo.
- Então rapariga, o que te traz por cá? Anda, senta-te ao pé de mim, parece que viste um fantasma.
- Eu preciso….
- Não deve ser por causa dos teus pecados mais recentes. Absolvi-os todos há dois dias.
O Padre Hugo nunca perdeu a sua forma meiga e infinitamente paciente de dizer tudo o que tinha a dizer e para ser dito. Gostava verdadeiramente daquelas almas e sabia chegar a elas.
- Oh senhor Padre, é a minha mãe, está muito mal. Nós não gostamos nada de dar razão à convencida da minha cunhada - ai senhor padre, desculpe – mas o médico confirmou, ela tem Alzira.
- Alzira?!
- Sim, senhor padre, aquela doença dos esquecidos.
- Amnésia? Mas isso não é uma doença, é um sintoma.
- Não, acho que não, é aquela que dá perda de memória e tolêdo.
- Ó rapariga, deves estar a falar de Alzheimer.
- É isso, é isso.
Joana levita sempre que esbarra no peito da omnisciência daquele homem, sempre em tão boa forma, e tão inteligente. Uma vez sonhou toda a noite com ele, mas ficou tão aflita que foi logo confessar-se, mesmo antes de ir para o trabalho. Tinha de ficar em paz.
- E o que é que o médico aconselhou?
- Já viu?!, ela agora tem de ir fazer um ror de exames. Como é que vamos pagar? Ainda por cima agora, que eu queria tanto comprar uma mobília nova para o quarto da minha mais nova ... vai ficar tão tristinha ... é que a filhita da vizinha tem uma já há mais de 6 meses ...
- Pois é, mas a tua mãe está primeiro que tudo. Vós sois três, e a segurança social ajuda. Trata já de marcar tudo para ela ir.
Joana obedece, aquele homem é o mais sábio que ela alguma vez conheceu. Mas ela sabe que é uma mulher de sorte, pois o seu Ricardo também é um homem muito fino.
- Olha lá, e o teu pai? Como é que está com isto tudo?

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Pode ser com açúcar, às vezes

A temperatura do chá, servido com ritual inexorável, vai se aproximando da minha.
É um devir certo com um motivo incerto.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Doces férias



Nunca demasiado doces...

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Verdade?



Até pode ser, mas é doce na mesma... tss, tss, tss

domingo, 20 de janeiro de 2008

vamos poupar no açucar?